quarta-feira, 6 de junho de 2007

e agora?

Gostaria de dizer que a incursão na Trienal deu resultado, que pelo menos 800 pessoas ficaram a conhecer o movimento e os seus objectivos e começarão a participar neste forum de discussão.

Ouvi, no entanto, um afirmação, enquanto distribuíamos os flyers, que gostaria de comentar. Alguém disse, ao ler o conteúdo do documento, que o problema se resolveria se começassem a fechar escolas de arquitectura. Concordo que, em grande parte, o problema da saturação do mercado de trabalho resultou de uma abertura descontrolada de escolas de arquitectura. E que provavelmente, a maioria nem cumpre os requisitos pedagógicos para estar a funcionar. No entanto, não deixo de pensar que comentários como o que ouvi, não deixam de encerrar uma série de preconceitos. Primeiro creio que os problemas de ensino de arquitectura em portugal são patentes, tanto em escolas públicas como privadas. E tão pouco creio que se estabeleçam tantas assimetrias entre um arquitecto formado numa universidade pública e entre um formado por uma escola privada. Falo como aluno de uma escola pública, que o problema da precarização do trabalho é um tema transversal para todos os jovens licenciados e que não há arquitectos de primeira e de segunda quando começamos a trabalhar.

Quantos colegas meus, que tiveram um percurso brilhante enquanto estudantes, não enfrentam agora uma situação de exploração laboral? Eu sei que o termo exploração é forte, mas julgo que trabalhar mais de dez horas por dia, a troco de um ordenado minimo (se é que existe) sem direito a horas extraordinárias, não tem outro nome. Acho que todos nós sabemos que o compromisso com a arquitectura implica sacríficio e abdicar de uma vida normal, mas isso implica também que o nosso trabalho seja reconhecido e dignificado pelas gentes que pertencem a esta classe profissional.

Aproveito para contar um caso próximo de uma colega que procurando trabalho num atelier e estando consciente das condições oferecidas pela maioria dos empregadores, impôs de pronto na entrevista que só ali ficaria a trabalhar sob uma remuneração justa. O atelier atendento à qualidade do seu trabalho concordou logo em pagar-lhe um ordenado. Admiro a sua coragem.

Sei que na maioria das vezes, nos falta a coragem para dizer não. Poderão dizer também que a maioria das pessoas não terá a hipótese de recusar um trabalho, até porque logo outro virá para tomar o seu lugar. Mas, na verdade, os ateliers precisam dos jovens, precisam da sua capacidade de trabalho e das suas ideias novas. Se cada um de nós começar a dizer não quando nos propuserem trabalhar de graça, o sistema irá mudar

1 comentário:

jerónimo disse...

Este último parágrafo mereceu o meu comentário. Foi isso que exactamente se passou comigo. No ano de estágio da Ordem fui remunerado com o ordenado mínimo (o que é compreensível devido à falta de experiência e de o estágio funcionar como um teste para que ambas as partes decidam se querem continuar). Mas quando acabou o estágio, consciente do trabalho que desenvolvi durante um ano, falei com o patrão e não foi difícil passar a ter uma remuneração adequada a uma pessoa que tem um curso de arquitectura, que o fez com boas notas e que tem capacidade de trabalho e profissionalismo.
Para além de todas as outras questões que o Exige-Arq tem levantado é também por esta que temos de lutar. E esta, mais do que qualquer outra, só depende de nós.